Biografia

Os milhões de CD’s e DVD’s vendidos em todos os continentes, 8 Grammys Latinos e sua incontestável trajetória até aqui fazem com que Maria Rita seja considerada pela mídia especializada a maior representante da música brasileira de sua geração. Se seu primeiro disco, “Maria Rita”, teve um sucesso meteórico com mais de um milhão de cópias vendidas, o reconhecimento de público e crítica segue inabalável dezesseis anos depois. O disco “Amor e Música”, de 2018, foi eleito o Melhor Álbum de Samba/Pagode pelo Grammy Latino e considerado pela Folha de São Paulo “uma afirmação de Maria Rita no papel de sambista”.

Maria Rita começou a cantar profissionalmente aos 24 anos. Não acha que foi tarde. “Você se achar no mundo é uma tarefa muito difícil”, diz a cantora, formada em Comunicação Social e Estudos Latino-Americanos nos EUA. Filha de Elis Regina e César Camargo Mariano, Maria Rita ouviu desde cedo que tinha o dever de cantar, mas resistiu durante algum tempo. “Encaro a vida como um grande processo construído por pequenos processos no caminho. Sempre quis cantar. Mas a questão não era querer, era por quê. Não gosto de fazer nada sem ter um porquê. Fica mais fácil quando você tem um objetivo, uma meta. Tal objetivo passou a existir quando percebi que ficaria louca se não cantasse”, afirma.

Fotos: Daryan Dornelles

Após escolher a hora certa, ela se lançou com a confiança necessária para uma carreira de resultados e conquistas inquestionáveis. Antes mesmo de lançar um CD, foi a vencedora do Prêmio APCA de 2002 como Revelação do ano.

Seu primeiro disco, “Maria Rita”, lançado em setembro de 2003, vendeu mais de 1 milhão de cópias em todo o mundo. O primeiro DVD, que traz o mesmo título e foi para as lojas na primeira semana de novembro daquele ano, chegou à marca de 180 mil cópias, tendo sido o 2º DVD mais vendido de 2003 no Brasil, atrás apenas de Beatles Anthology. CD e DVD foram lançados em mais de 30 países e alcançaram, no Brasil (um mercado tido como em crise, ameaçado pela pirataria), Disco de Platina Triplo e DVD de Diamante, e em Portugal, CD de Platina. Com 160 shows lotados ao longo de 18 meses, a turnê do disco, não precisamos dizer, foi um sucesso.

O reconhecimento de crítica também veio. Em sua primeira participação no Grammy Latino, Maria Rita venceu as categorias Revelação do Ano, Melhor Álbum de MPB e Melhor Canção em Português (“A Festa”). Além da premiação internacional, o trabalho de estreia também levou: Prêmio Faz a Diferença (oferecido pelo jornal “O Globo”); o troféu de Melhor Cantora no Prêmio Multishow e os troféus de Revelação e Escolha do Público no Prêmio Tim. As músicas de trabalho do primeiro disco foram “A Festa” (Milton Nascimento), “Cara Valente” (Marcelo Camelo), “Encontros e Despedidas” (Fernando Brant e Milton Nascimento) – música de abertura da novela “Senhora do Destino” – e “Menininha do Portão” (Paulo Tapajós Gomes e Nonato Buzar), gravada por Wilson Simonal nos anos 60. Foi em meio ao sucesso retumbante de seu início de carreira que Maria Rita deu luz a seu filho com o cineasta Marcus Baldini, Antonio.

Fotos: Daryan Dornelles

A evolução musical de Maria Rita se deu de maneira instintiva e informal. Uma conversa com o pai quando era mais jovem ilustra bem isso. Maria Rita pediu que César Camargo Mariano a ensinasse a tocar piano. Diante de uma negativa, encolheu-se: “Você não tem tempo, não é?” O pai, que é uma das grandes referências musicais dela, discordou; disse que tempo, se fosse o caso, ele arrumaria. O problema é que ele aprendera sozinho. “O que ele toca, ele não aprendeu com ninguém, então ele não tem metodologia”, entende agora Maria Rita, que seguiu trilha parecida. Soltava a voz e pronto. Empenhou-se em buscar a melhor forma de usar seu instrumento (sua voz) com o auxílio da preparadora vocal Maria Alvim. Ela até gostaria de ter uma bagagem mais formal, mas por outro lado mostra-se satisfeita com os caminhos que escolheu, guiada pelo instinto e pelo coração.

Em setembro de 2005, chegou às lojas o novo trabalho de Maria Rita, “Segundo”, que teve como música de trabalho “Caminho das Águas” (Rodrigo Maranhão). Juntamente com a pré-venda do CD em lojas online, foi feita a “venda digital” do single da música. Neste último caso, uma novidade no mercado brasileiro de discos: foram tantos downloads que houve congestionamento já na data de lançamento. Todo mundo queria ter Maria Rita gravada no computador. E não é para menos.

O novo CD rendeu à cantora um disco duplo de platina, uma extensa turnê no Brasil, participações especiais em diversos CDs (“Forró pras Crianças” e “100 Anos de Frevo”) e shows nacionais (Arlindo Cruz, O Rappa, Os Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil e Mart’nália) e internacionais (Jamie Cullum, Mercedes Sosa e Jorge Drexler). O sucesso mundial de “Segundo” lhe rendeu, em 2006, mais dois Grammys Latinos – Melhor Álbum de MPB e Melhor Canção Brasileira com… Adivinhem? “Caminho das Águas”. E mais de 50 apresentações em festivais do exterior, como Montreux Jazz Festival, North Sea Jazz Festival, Irving Plaza (NY), San Francisco Jazz Festival, dentre outros.

Fotos: Daryan Dornelles

No dia 14 de setembro de 2007, Maria Rita lançou o seu terceiro CD, “Samba Meu”, que teve lançamento simultâneo nos Estados Unidos, América Latina, Portugal, Israel e Reino Unido e também ficou entre os 10 discos mais vendidos daquele ano. Em abril de 2008, a ABPD concedeu o Disco de Platina pelas mais de 125 mil cópias vendidas. O álbum também ganhou o prêmio de Melhor CD no 15º Prêmio Multishow de Música Brasileira e rendeu à Maria Rita o sexto Grammy Latino, como Melhor Álbum de Samba.
Em setembro de 2008, Maria Rita lançou o DVD “Samba Meu”, que lhe rendeu também o Disco de Platina. Filmado ao vivo no Rio de Janeiro, produzido por Maria Rita e dirigido por Hugo Prata (Zulu Filmes), o DVD traz a íntegra do show e alguns extras, como os clipes de “Num Corpo Só?” e “Não Deixe o Samba Morrer” (ambos dirigidos por Hugo Prata), um slideshow de fotos de Marcos Hermes e o making of da gravação.

A turnê de “Samba Meu” foi até meados de 2010. Logo em seguida, um convite para uma mini-temporada na Europa fez com que ela montasse um novo show, sem nome, com um repertório para piano-baixo-bateria-voz de músicas que desejava cantar. Deu tão certo que rodou o país por mais de um ano e gerou pedidos de fãs para que aquelas canções fossem registradas num álbum. Assim, Maria Rita gravou “Elo”, lançado em CD e vinil pela Warner em setembro de 2011. O CD recebeu o Disco de Platina.

Fotos: Daryan Dornelles

No final de 2011, Maria Rita começou a preparar um show em homenagem a Elis Regina, que fazia parte do projeto “Viva Elis”. Em princípio, seriam 5 apresentações gratuitas ao longo do primeiro semestre de 2012, em diferentes cidades brasileiras. O sucesso foi tão grande que a cantora decidiu seguir com o show, rebatizando-o de “Redescobrir”, e saiu em turnê pelo Brasil. Além disso, o espetáculo foi gravado e lançado em CD, DVD e Blue-Ray pela gravadora Universal. CD e DVD ficaram entre os 20 mais vendidos do país em 2012. Foi ao longo do projeto homenageando sua mãe que Maria Rita se descobriu grávida de uma menina, fruto de seu relacionamento com o músico e compositor Davi Moraes. Alice nasceu em 10 de dezembro de 2012. No ano seguinte, o álbum “Redescobrir” ganhou o Grammy Latino da categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira e tanto CD quanto DVD receberam Discos de Platina. Neste mesmo ano, após cumprir sua licença-maternidade, MR performou pela primeira vez o show “voz: piano” celebrando o dia da mulher no Rio de Janeiro. No dia 12 de maio, voltou a rodar o país com “Redescobrir”. Após encerrar a turnê do aclamado show em homenagem à sua mãe, Maria ainda teve tempo de fazer uma performance inesquecível no Palco Sunset do Rock in Rio, com um show dedicado aos sambas do repertório de Gonzaguinha.

O documentário “Maria Rita – Canto Encanto Tanto”, dirigido por Bruno Levinson, também teve seu lançamento naquele ano. Lançado pelo Canal Bis, o filme mostra Maria Rita falando sobre sua trajetória profissional, música e vida. Arlindo Cruz, Rodrigo Maranhão e João Marcello Bôscoli foram alguns dos entrevistados.

Fotos: Daryan Dornelles

Em 2014, Maria Rita fez uma curta turnê com o show voz:piano nos Estados Unidos. Voltando ao Brasil, lança em março o sexto álbum de sua carreira, “Coração a Batucar”, seguido de uma longa turnê pelas principais cidades brasileiras, além de Europa, América Latina e Estados Unidos. Produzido pela própria cantora, com arranjos de Jota Moraes, foi gravado como numa roda de samba. Músicas inéditas de Noca da Portela, Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Joyce e uma versão do clássico “Saco Cheio”, de Almir Guineto, constam no disco, que venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba de 2014 e também um Disco de Ouro. Ainda em 2014, para celebrar a marca e o sucesso, Maria Rita e Universal Music, em parceria com o Instituto GVT, prepararam a Edição Especial deste trabalho para ser lançada no ano seguinte. Dirigido por Hugo Prata (vídeo), e Maria Rita (áudio), com arranjos de Jota Moraes e adaptações da banda e da artista, o produto “Coração a Batucar Edição Especial” continha, além do CD, um DVD inédito com o registro de um show único e intimista da cantora, realizado no estúdio Na Cena (SP).

Como se não fossem conquistas suficientes em um só ano, o show voz:piano foi considerado um dos 10 melhores de 2014 pelo jornal americano The New York Times. Para coroar esse ano, Maria Rita foi convidada a cantar, pela primeira vez, no Réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, que reuniu cerca de 2 milhões de pessoas.

O ano seguinte começou com muita emoção. A escola de samba paulistana Vai-Vai levou pra avenida o enredo “Simplesmente Elis: A Fábula de Uma Voz na Transversal do Tempo” e convidaram Maria Rita para a comissão de frente. A emocionante homenagem ainda rendeu à escola o título de campeã do carnaval de 2015.

Fotos: Daryan Dornelles

Passado o carnaval, Maria Rita seguiu com o show “Coração a Batucar” pelo país. É também neste ano que a intérprete apresenta pela primeira vez o show “Samba da Maria”, de proposta intimista e com repertório especialmente pensado para recriar a atmosfera tão peculiar das boas e tradicionais rodas de samba cariocas. O ano terminou com 4 mil pessoas na Fundição Progresso para a gravação de “O Samba em Mim”, registro do show de encerramento da turnê de “Coração a Batucar” em CD e DVD.

“O Samba em Mim” foi lançado em 2016, com 13 faixas no CD e 20 faixas no DVD, que são mais do que a simples documentação do show.O projeto traz sucessos interpretados ao longo de sua carreira, além de todas as faixas do álbum lançado em 2014.

Ainda em 2016, Maria Rita é convidada para cantar no Montreux Jazz Festival, um dos principais festivais de música do mundo, e também na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos. Permanecendo no âmbito internacional, Maria Rita apresentou no palco Sunset do Rock in Rio de 2017 um tributo à Ella Fitzgerald com participação de Melody Gardot, que foi executado com “técnica impecável”, de acordo com o crítico de música Leonardo Lichote, do jornal O Globo. Para Mauro Ferreira, do G1, “Maria Rita prova (mais uma vez) que é bamba ao encarar o repertório de Ella”.

Fotos: Daryan Dornelles

No começo de 2018, chega às lojas e plataformas digitais “Amor e Música”, seu sétimo disco de estúdio. Com direção e produção da própria cantora, o álbum foi premiado pelo Grammy Latino como Melhor Álbum de Samba. O álbum apresenta 12 faixas, compostas por amigos e parceiros como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Marcelo Camelo, Carlinhos Brown, Moraes Moreira, Davi Moraes e Pretinho da Serrinha, entre outros, incluindo a inédita “Samba e Swing” – de Oscar da Penha (1924 –1997), o Batatinha, poeta do samba de Salvador (BA) – que a cantora recebeu das mãos da família do compositor.

Fica difícil resumir os 17 anos de premiada carreira da cantora de voz ímpar e versátil. Ganhou mais de 10 Grammys Latinos (considerando também os prêmios nos quais teve participação), teve músicas emplacadas em cerca de 20 novelas e filmes (“Encontros e Despedidas” como tema de “Senhora do Destino” e “Agora Só Falta Você” na trilha do filme americano “Ladrão de Diamantes”, por exemplo), dividiu palco com nomes como Andrea Boccelli, Gilberto Gil, Jorge Drexler, Melanie Gardot, Calle 13, Paulinho da Viola, Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, só pra listar artistas dos mais diferentes gêneros e nacionalidades… Nos resta, então, manter este texto em constante atualização e ficar de olhos e ouvidos bem abertos pros próximos passos dessa artista incomparável da nossa música.

Fotos: Daryan Dornelles