Pelo repertório: Como nossos pais

Elis Regina foi uma reveladora de talentos. Um deles: Belchior, autor de “Como nossos pais”. Não foi a primeira música que ela gravou de Belchior mas, com certeza, a mais cantada de todas. “Elis é absolutamente essencial na música popular brasileira. Faz parte da fundação da música brasileira contemporânea. Sempre teve uma intuição muito especial […]

Elis Regina foi uma reveladora de talentos. Um deles: Belchior, autor de “Como nossos pais”. Não foi a primeira música que ela gravou de Belchior mas, com certeza, a mais cantada de todas. “Elis é absolutamente essencial na música popular brasileira. Faz parte da fundação da música brasileira contemporânea. Sempre teve uma intuição muito especial na escolha dos autores e das canções que ela própria faria, depois, pertencer em definitivo à história da música popular. Elis descobriu minha música e a reinventou”, disse o compositor.

Belchior nasceu em Sobral, no Ceará. E em Fortaleza, conheceu Raimundo Fagner, que tinha vindo de Orós. Logo viraram parceiros. Como outros músicos, eram de turma conhecida como o “Pessoal do Ceará”. Depois, cada um tomou seu rumo. Belchior foi estudar medicina no Rio e Fagner, arquitetura em Brasília. Mas continuavam tentando a vida como músicos. Depois que a parceria “Mucuripe” venceu um festival de música em Brasília, Fagner juntou-se a Belchior no Rio. “Ele, Belchior e Cirino moravam num apartamento de quarto-e-sala. Um dia Fagner foi me procurar no Teatro da Praia” contou Ronaldo Bôscoli. “Estávamos fazendo um show da Elis.
’Preciso conversar com você ‘ foi logo me dizendo. Disse que tinha uma porção de músicas e que gostaria de incluir uma delas no show da Elis.” “Mucuripe” acabou entrando no roteiro e, no ano seguinte, foi gravada, por Elis. A música projetou os dois artistas.

Ao longo de sua carreira, ela registraria outras músicas de Belchior e Fagner. “Eu estava numa gravação com Toquinho e Vinícius, Elis já me conhecia de nome e pediu que eu fosse à sua casa. Naturalmente eu insisti que aquela ida deveria ser na hora do jantar (risos) e ela generosamente me acolheu”, contou Belchior. Naquela noite, gravei todo o repertório que eu tinha composto até aquela altura – umas vinte canções. Ela pediu licença, subiu para seu estúdio particular, disse que ia ouvir sozinha as músicas e escolher as canções que ia gravar”, lembrou Belchior.

E, na fita, estava “Como nossos pais”, uma canção com um tom de amargura e desilusão dos tempos da ditadura, que entraria no álbum “Falso Brilhante”, de 1976.

Veja a letra:

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos…

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa…

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens…

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz…

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração…

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais…

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando…

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais…

Comentários (12)

  1. Quer mais um indicador da grandeza da Elis? (Como se fosse necessário): uma letra destas, complexa, e TODO brasileiro sabe cantar, de cor e salteado!

  2. Adoro as cançoes do Belchior e Fagner, e quanto ao Falso Brilhante, sem comentarios….. Enquanto morava em Sao Paulo, assisti muitos shows ao vivo de muitos artistas como: Roberto Carlos, Djavan, Caetano, Chico, Ivan Lins, Bethania, Gal, Gil e outros….. mas com certeza, o melhor show ao vivo que assisti em toda a minha vida, foi o FALSO BRILHANTE, este superou todas as expectativas, pois foi um espetaculo musical e teatral… ELIS, que saudades !!

  3. Cantora, artista estrela, q fase fantástica vc tá vivendo e contagiando os sentimentos da alma dos que amam Elis acima de qualquer coisa e adoram você, Menina da Lua! MRita querida, um dia destes você poderia considerar cantar MENINA DA LUA em um show seu ou quando em algum programa de TV? Outra música tão fora de série como “COMO NOSSOS PAIS” e também sem palavras de tão bonita e em q vc simplesmente arraza é a música jóia da arte popular mundial e que cantoras como vc tornam espetacular é ENCANTADA, do Álbum Nego, é demais vc cantando essas músicas. Tudo à parte o show em q vc homenageia a Estrela Maior de todos nós sua mãe imortal nossa amada Elis Regina. Vc tá deixando nossos corações aos pulos de tanta emoção, MRita. Hoje,ver você, ouvir você, babar te vendo e ouvindo cantar Elis no Serginho. Vc tá muito lindinha, se cuide muito, paz sempre.

  4. Falar o que? O negócio é ouvir, ver e agradecer a Deus, ter nos permitido usufruir do prazer que estas duas brasileiras nos deram, dão e darão…….

  5. Estou gostando demais dessa visitação ao repertório.

    Pra quem, como eu, é mais jovem e não conheceu Elis, parece que a obra dela ganha outro sentido.

    Alias, li um outro comentário aqui dizendo que a Maria Rita está apresentando a Elis para as novas gerações e é verdade.

    Ver uma musica que foi gravada em 1976 (logo, foi composta antes disso)… e é tãoooo atual. Em 1976 eu não era nem projeto de gente, nem sonhava em nascer. E pensar que hoje eu canto (desafinada é verdade, mas canto) essa música, sei a letra todinha de cor e faz todo o sentido pra mim. É muito louco isso!

  6. Quando desejos outros é que falam
    e o rigor do apetite mais se aguça,
    despetalam-se as pétalas do ânus
    á lenta introduçao do membro longo.
    Ele avança, recua,e a via estreita
    vai transformando em dúlcida paragem.
    Mulher, dupla mulher, há no teu âmago
    ocultas melodias ovidianas.
    Belchior e Carlos Drumond.
    quem gosta de axé e bagode fica voando. daliiii BELCHIOR

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