Pelo Repertório: Morro Velho

O ano era 1967. O cenário: os bastidores do programa “O Fino da Bossa”. Milton tinha ido assistir à gravação e Elis – estavam ficando bem amigos na época – lhe abraçou e disse: “Você classificou três músicas para o festival do Rio”. Surpresa.  Afinal, ele não tinha inscrito nenhuma. O que Milton não sabia […]

O ano era 1967. O cenário: os bastidores do programa “O Fino da Bossa”. Milton tinha ido assistir à gravação e Elis – estavam ficando bem amigos na época – lhe abraçou e disse: “Você classificou três músicas para o festival do Rio”. Surpresa.  Afinal, ele não tinha inscrito nenhuma. O que Milton não sabia é que Agostinho dos Santos tinha inscrito por ele. E logo três. Uma delas, “Morro Velho”.

A música tirou o sétimo lugar do  II Festival Internacional da Canção (FIC) e ele foi escolhido como o Melhor Intérprete. “A partir desse festival, minha vida mudou completamente. Gravei meu primeiro disco no Brasil, e logo depois fui para os Estados Unidos gravar outro”, contou ele em depoimento à revista Lola. “Ao longo disso tudo, Elis e eu estávamos cada vez mais próximos. E, enquanto ela estava aqui com a gente, eu pude estar ao seu lado em praticamente todos os discos que gravou, assim como ela estava presente nos meus”.

E claro que “Morro Velho” tinha que fazer parte da história. Foi gravada em 1977 no álbum “Elis”. Na música, Milton fala da amizade dois meninos, um branco e um negro, que vivem no campo, faz uma análise instintivamente das desigualdades sociais e do preconceito racial.

 

 

Morro Velho
(Milton Nascimento)

No sertão da minha terra
Fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força
Parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro
E ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada de viola em vez de enxada

Filho de branco e do preto
Correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro
Crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho
De água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada

Filho do sinhô vai embora
Tempo de estudo na cidade grande
Parte, tem olhos tristes
Deixando o companheiro na estação distante
“Não me esqueça amigo, eu vou voltar”
Some longe o trenzinho ao deus-dará

Quando volta já é outro
Trouxe até sinhá-mocinha para apresentar
Linda como a luz da lua
Que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor
E agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada já não brinca, mas trabalha

Comentários (6)

  1. O repertório da Elis é simplesmente fantástico. Como esta mulher tiunha uma capacidade incrível para escolher o que cantar casando perfeitamente com sua poderosa voz. Não há no seu repertório uma música que se diga que não era para ela. Seu repertório além de extremo bom gosto, foge do comum e tudo que ela escolheu pra cantar é muito atual. Em sua ultima entrevista para o programa Jogo da Verdade ela disse a sublime frase ” A longevidade do disco é uma coisa que pode servir de testemunha de defesa, como também pode lascar uma condenação histórica.” E os discos da Elis são as testemunhas de que ela é uma cantora histórica. A melhor que já se viu e ouviu.

    Te amamos Martia Rita! dia 06 de outubro está chegando… Concha Acústica… Salvador etc.

  2. O que mais me dói é que tínhamos músicas desse nível, cantadas por cantoras como Elis. Hoje, o lixo, com raras exceções, estupra nossos sofridos ouvidos. Essa música é perfeita. Elis é tudo.

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